sábado, 23 de abril de 2011

GUARDA MUNICIPAL José Bonifácio o regente que esteve com a guarda municipal



Dom Pedro I declarou a independência. Marechal Deodoro proclamou a República. O Estado Novo derrubou a República Velha. A ditadura militar varreu a República Nova. E a Nova República se equilibra para não envelhecer. Apenas uma família conseguiu acompanhar todas essas fases históricas atravessadas pelo país nos últimos dois séculos do alto do Legislativo brasileiro. Os Andrada desembarcaram no Congresso Nacional antes mesmo de ele existir, ainda nas Cortes Portuguesas, em 1821, e não deixaram mais o Parlamento.


No século passado, não houve uma única legislatura em que os herdeiros do Patriarca não estivessem presentes. Tem sido assim, ininterruptamente, desde 1894. A sucessão da dinastia chegou a ficar ameaçada nas últimas eleições, quando o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG), nome da família na Câmara desde 1979, tomou seu maior susto. O tucano ficou na segunda suplência e só voltou ao Congresso porque o governador Antonio Anastasia, seu colega de partido, chamou dois deputados para seu secretariado, garantindo o prosseguimento da série histórica da família.
Sucessão anunciada
Aos 80 anos, Bonifácio diz que não tentará o décimo mandato consecutivo em 2014. Ele garante, porém, que o ciclo dos Andrada está longe de terminar. “Um dos meus filhos vem aí. São três possíveis candidatos”, avisa o deputado, filho do ex-presidente da Câmara e ex-líder do governo Geisel na Câmara Zezinho Bonifácio, neto do ex-deputado e diplomata José Bonifácio de Andrada e Silva e integrante da sexta geração de políticos da família, iniciada pelos irmãos José Bonifácio, Antônio Carlos e Martim Andrada.

Três dos oito filhos do deputado Bonifácio também incursionaram pela política. Antônio Carlos de Andrada foi vereador, prefeito de Barbacena (MG) e deputado estadual. Atualmente, preside o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE-MG). Martim Francisco também foi vereador e prefeito da cidade natal da família.
Criança em Barbacena
O mais jovem dos três, o deputado estadual Lafayette Andrada (PSDB), de 44 anos, está licenciado do cargo e comanda a Secretaria Estadual de Defesa Social. É o nome mais cotado atualmente para suceder o pai na Câmara. “Quando era criança em Barbacena, meus irmãos, eu e nossos amigos brincávamos de eleição. Fazíamos votação com caixa de sapato e papel de rascunho. Inventávamos partidos. A gente ganhava e perdia”, conta o secretário.
O ambiente familiar fez com que o gosto pela política aflorasse de maneira natural, segundo ele. “Nós nascemos nesse meio. Na minha infância e juventude, meu pai e meu tio eram deputados, meu avô foi deputado. Meus irmãos mais velhos eram vereadores. Nós nascemos em um ambiente que respirava política. Minha vida foi apontando para esse caminho”, afirma.
Lafayette diz que a tradição da família com a política repete a trajetória comum a tantos grupos familiares que seguem, de geração para geração, num ramo do comércio. “É algo semelhante a um padeiro português que monta padaria. O filho cresce vendo o pai fazendo pão. Ajuda o pai no caixa e no forno. O filho acaba assumindo a padaria. Aí acontece a mesma coisa com o neto. Foi isso que aconteceu comigo”, compara.
Mudança de sonhos
Bonifácio de Andrada diz que a influência familiar pode se manifestar em duas formas, despertando a vocação ou a ojeriza pela política. “Se não gostar, não aguenta. A atividade política é muito exigente e pesada. A política tem de ter o sonho, para você para os outros”, diz o deputado, que acumula nove mandatos na Câmara, quatro na Assembleia mineira e um na Câmara municipal de Barbacena.

Professor aposentado da Universidade de Brasília (UnB) e reitor de uma universidade particular criada por sua família, Bonifácio afirma que os “encantos” propiciados pela política já não são mais os mesmos. “Os sonhos mudaram. Eram mais políticos. Hoje, predominam mais os sonhos relacionados às atividades econômicas, sociais e financeiras. Acho que não está perdendo o encanto. Os encantos de ontem é que não são mais os mesmos de hoje.”
O filho Lafayette admite que ter um representante da família no Congresso há mais de um século, de maneira ininterrupta, serve de estímulo para as novas gerações. “Acaba tendo um gosto especial. É sempre interessante ver que o trabalho que você está fazendo foi reconhecido”, afirma.
Uma marca que ele espera não testemunhar sua derrubada. “A nova geração que está vindo ainda está na adolescência. São muitos sobrinhos, nenhum despontou ainda. Não sabemos ainda quem vai assumir esse encargo. Mas certamente haverá algum. São mais de 25 sobrinhos. Não é possível que não vai salvar um”, brinca.
Desgaste e continuidade
Para o cientista político e sociólogo Moisés Augusto Gonçalves, da PUC de Minas, o fato de Bonifácio de Andrada ter entrado como suplente na Câmara indica que o peso político da família tem diminuído com o surgimento de novas forças em seu reduto eleitoral. “O Hélio Costa (ex-senador e ex-ministro das Comunicações), por exemplo, é de Barbacena. Você tem uma realidade que quebra o monopólio e força o deslocamento dessa força política para outros lugares”, diz o professor.
Isso não significa, no entanto, que o “reinado” dos Andrada no Congresso esteja com os dias contados. A estratégia para a manutenção do poder em família, segundo ele, é a mesma adotada por outros grupos familiares. “Há sempre novos nomes para substituir o desgaste dos antigos nomes. É um jogo. A pretensa renovação é a continuidade com outro rosto. É um calculo eleitoral e político”, considera.

Nos últimos 190 anos, a família produziu 15 deputados e senadores, quatro presidentes da Câmara, oito ministros de Estado e dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), além de governadores, prefeitos e vereadores. Ao todo, rendeu mais de 20 políticos e ocupantes de altos cargos públicos. Nenhuma outra família superou esse clã na geração de políticos influentes na história do país. Uma tradição iniciada com o Patriarca da Independência, José Bonifácio de Andrada, e que já alcança a sexta geração consecutiva no Congresso.
Descendentes de aristocratas portugueses, os Andrada inauguraram a tradição política familiar no Brasil e se consolidaram como o clã que mais cadeiras conquistou na história do Congresso Nacional: 15 até hoje. Uma história iniciada por Antônio Carlos Ribeiro de Andrada e o sobrinho José Ricardo da Costa Aguiar d’Andrada, dois dos representantes brasileiros nas Cortes Portuguesas, em Lisboa, em 1821 (após a Revolução do Porto, as cortes foram instaladas como Assembleia Constituinte, para escrever uma nova Constituição para Portugal, e o Brasil, então Reino Unido, mandou seus representantes, que foram os primeiros parlamentares brasileiros), e que ganhou maior projeção com o irmão mais velho de Antônio Carlos também na primeira metade do século XIX.
José Bonifácio de Andrada e Silva, conselheiro de D. Pedro I, de quem foi aliado, adversário e novamente aliado para se tornar tutor de D. Pedro II, é considerado o “Patriarca da Independência”. José Bonifácio, Antônio Carlos e um terceiro irmão, Martim Francisco de Andrada, foram deputados constituintes em 1823. Começava ali a história de uma dinastia que se perpetua há seis gerações no Congresso. Muitas vezes, repetindo não apenas o sobrenome, mas os próprios primeiros nomes.
O Congresso em Foco apresenta, a seguir, a relação dos Andrada que passaram pela Câmara e pelo Senado:
Primeira geração
José Bonifácio de Andrada e Silva (1763–1838) – o Patriarca da Independência
Foi constituinte em 1823, deputado entre 1830-1833. É, ao mesmo tempo, avô e tio-avô do bisavô do hoje deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG).
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (1773–1845) Foi um dos representantes brasileiros nas Cortes Portuguesas (1821-1822) .Foi constituinte em 1823, senador e ministro do Império. Foi deputado entre 1838-1841 e em 1845. Foi autor da primeira proposta de Constituição para o Brasil, que não chegou a ser votada por causa da dissolução da Constituinte por D. Pedro I
Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775–1844)Constituinte em 1823, conselheiro e ministro da Fazenda. Foi deputado entre 1830-33, 1834-1837 e 1838-1841. Presidiu a Câmara em 1831 e 1842. Casou-se com a sobrinha Gabriela Frederica Ribeiro de Andrada, filha de José Bonifácio, o Patriarca. É trisavô do hoje deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG).
José Ricardo da Costa Aguiar d’Andrada (1787-1846)Sobrinho dos irmãos José Bonifácio, Antônio Carlos e Martim Francisco. Foi um dos representantes brasileiros nas Cortes Portuguesas (1821-1822), integrou a Assembleia Constituinte de 1823 e a Assembleia Geral Legislativa na 1ª legislatura (1826-1829). Foi também ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segunda geração
José Bonifácio, o Moço (1827–1886)Ministro no Segundo Império, foi deputado entre 1861-1863, 1864-1866, 1867-68,1878-79. Foi senador entre 1879 e 1886.
Martin Francisco Ribeiro de Andrada (1825–1886)Presidente da Câmara dos Deputados em 1882 e ministro no Segundo Império. Foi deputado entre 1853-56, 1861-63, 1864-66, 1867-68, 1878-81, 1881-84
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (II) (1830-1902)Deputado entre 1867-1868 e 1878-1881. Foi também procurador-geral do Estado de São Paulo.
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (III) (o senador) (1836–1893)Foi deputado geral no Império entre 1885 e 1886 e senador estadual constituinte de Minas Gerais na primeira República. É bisavô do atual deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). Fixou-se em Barbacena (MG), onde deu iniício ao ramo mineiro da família.
Terceira geração
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (IV) (1870–1946) Ministro da Fazenda e presidente de Minas Gerais. Presidiu a Câmara entre 1933 e 1937. Foi deputado entre 1885-85; 1909-12, 1912-15, 1915-18, 1918-21, 1921-24, 1924-27, 1927-1934, 1934-35 e 1935-37.
Antônio Manuel Bueno de AndradaFoi deputado federal por São Paulo na Primeira República entre 1894-1896, 1897-99, 1900-02, 1909-12, 1912-15, 1915-18.
José Bonifácio de Andrada e Silva (1871–1954)Embaixador do Brasil na Argentina e no Vaticano, é avô do hoje deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). Foi deputado entre 1897-1899, 1900-02, 1903-1905, 1906-09, 1909-12, 1912-15, 1915-18, 1918-21, 1921-24, 1924-27, 1927-30, 1930-30.
Martin Francisco Ribeiro de Andrada (o filho) (1853 - 1927) Foi ministro dos Negócios Estrangeiros e da Justiça e presidente da Câmara. Foi deputado entre 1876-77, 1878-81, 1881-84, 1885-85, 1912-15.
Quarta geração
José Bonifácio Lafayette de Andrada (1904–1986)Constituinte de 1946, foi presidente da Câmara entre 1968 e 1970. É pai do hoje deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG). Foi deputado entre 1946-51, 1951-55, 1955-59, 1959-63, 1963-67, 1967-71, 1971-75, 1975-79.
Quinta geração
José Bonifácio Diniz de Andrada (1929–2002)
Presidente da Câmara Municipal e da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Foi deputado federal entre 1971-75 e 1975-79.
Bonifácio José Tamm de Andrada (1930)Foi presidente da Assembléia de Minas, secretário de estado, deputado estadual e federal. Está em seu nono mandato consecutivo na Câmara: 1979/83, 1983/87, 1987/91, 1991/95, 1995/99, 1999/03, 2003/07, 2007/11 e 2011/15.
Judiciário e Executivo
Mesmo sem ter passado pelo Legislativo, outros Andrada também ocuparam cargos de projeção nacional. Casos, por exemplo, Antônio Carlos Lafayette de Andrada (ministro do Supremo Tribunal Federal) e José Maria de Andrada Serpa (general-de-exército, foi ministro interino do Estado-Maior das Forças Armadas no governo militar de Ernesto Geisel).